Tempos nebulosos
Quando ensinar era um privilégio… e agora é um risco. Um conto sobre a dor de quem dedicou a vida ao ensino e viu sua vocação ser desvalorizada.
Giselle Nunes
7/15/20251 min read


Adormeci entristecida.
Poucas palavras. Muito sentir.
Há tempos atrás, ser Mestre era carreira sublime, grandiosa, engrandecedora. Formei-me Professora aos 17 anos. Que felicidade! Ensinar, ofício brilhante e recompensador. Na Pré-escola assistia aos primeiros vínculos da criança com o aprendizado sistemático, desabrocharem. Entorpecia-me. Letargia prazerosa de algo plantado que começava a germinar, furar a terra, buscar o sol e ansiar por ser regada constantemente. Era privilegiada.
Lá se foram quase quatro décadas. Dia a dia vi o Docente ser desmerecido, desacreditado, depreciado.
Quem amava lecionar, nebulosidade atacava. Dor na alma.
Dentre tantas notícias, estas me abalaram. Talvez por serem ainda pequenos os réus.
Professora idosa na Bahia, ensinava ao aluno em sua casa. Ao pedir que fizesse o dever foi agredida, não só pelo menino de sete anos, mas também pelos pais. Arrancaram seus cabelos e a golpearam, gerando vários hematomas pelo corpo. Na mesma semana, no Rio Grande do Sul, uma Professora de Português foi atacada pelo aluno com golpes de vassouras. A violência nos colégios é crescente entre professores e alunos.
Desalentador.
Salas de aulas esvaindo. Professores adoentados licenciados. Alunos desassistidos e agressivos.
Gerações comprometidas. Força perversa, obscuridade, incertezas e maus prenúncios se apossam do espírito acadêmico nobre.