Rabugice
Rabugice não é regra. Nem limite de esteira. Em meio à calmaria de um parque e à rotina de uma academia de hotel, o que surpreende não é a paisagem, mas o comportamento. Nem todo adulto amadurece. Alguns apenas crescem. E às vezes, o silêncio de quem está ao lado diz mais que o escândalo de quem bate o pé.
Giselle Nunes
8/5/20252 min read


Realmente há pessoas que vivem de mal com a vida.
Viajamos para São Paulo no finalzinho do recesso. Quatro dias revigorantes. Mafalda foi conosco e se comportou como uma lady em sua primeira viagem interestadual. Foi prazerosa e de grande aprendizado. Mas isso contarei em outro momento.
Mesmo em viagens, sempre nos exercitamos. Fomos caminhar no Parque Ibirapuera. Parque urbano no coração da cidade de São Paulo, inaugurado em 1954. Lindas árvores, variedade de pássaros e lago. Aroma de folhagens. Bem cuidado e atividades para todos os gostos. Na caminhada vimos pessoas praticando Yoga, malabarismo, ciclismo, skat, patinação, corrida. Piqueniques e brincadeiras infantis na grama, além de núcleos de comemorações. Um parcão para os pets e parque para crianças. Algo se destacou ao meu olhar. Maioria das pessoas vestidas de preto.
No dia seguinte, após o café da manhã, fui caminhar na esteira da academia. Aliás, requisito na hora de escolhermos hotel. Espaço simples: duas esteiras, uma bicicleta, pesos, elástico, colchonetes, bebedouro, toalhas e tevê. Para mim, suficiente. Iniciei a caminhada na esteira. Após 30min, apareceu um casal. O homem fez cara feia. Em tom rude, perguntou:
– Está acabando?
Tirei um dos fones de ouvido.
– Oi! – sorri –Bom dia! Falta meia hora para terminar.
– Mas após 30min tem que dar a vez a outra pessoa.
Não acreditei no que ouvi. Demorei a processar.
– Não li nada que estipulasse tal regra. – respondi duramente.
Bufando, ele percorreu o recinto buscando por algum papel que dissesse isso.
Saíram. Achei ter encerrado o assunto.
Uns 10min depois, voltam os dois com a funcionária do hotel.
Ele comunicou que desejava caminhar na esteira juntamente com a esposa, e eu estava lá a mais tempo que deveria.
Fingi não ouvir. Pelo reflexo do vidro, a expressão de interrogação da funcionária a deixava perdida na situação.
– Senhor, nossos hóspedes têm o direito a se exercitarem nos aparelhos o tempo que desejarem.
– Absurdo! Em todas as academias a pessoa só pode usar o aparelho por no máximo 30min. Ela já está a quase uma hora.
A funcionária respirou fundo. Se aproximou.
– Desculpe incomodá-la. A senhora está acabando a caminhada?
Tirei um dos fones de ouvido.
– Faltam 15min.
– Então, o senhor e sua esposa podem utilizar outros aparelhos enquanto aguardam só esses 15min.
Indignado e rosto afogueado, o rabugento saiu pisando duro e tagarelando que reclamaria formalmente.
Rabugice vazia. Deplorável ver adulto mimado com má disposição em relação à vida. Mas, a mudez feminina da esposa me tocou.