Desemoção

A emoção do samba não se encaixa em mesas frias e distantes. Carnaval é povo, é vibração!

Giselle Nunes

7/14/20252 min read

Inveterada apaixonada pelo Carnaval, ano a ano assisto todos os desfiles, tanto do Grupo Especial como da Série Ouro, até o finalzinho. Não importa onde e nem o que esteja fazendo. Paro tudo, e dedico às Agremiações. Assim também se dá nas apurações. E este ano não foi diferente. Estava na praia, eu e Mafalda, minha cachorrinha, saímos e chegamos meia hora antes do início da apuração da Série Ouro. Me preparei e perfumei.

Que expectativa!

As Escolas se esmeraram. Pude conferir pessoalmente nos ensaios técnicos. Este ano, merecidamente, a Série Ouro teria um dia exclusivo para descobrirmos a campeã. A apuração ocorreria em sinal aberto pela TV.

Empolguei.

Começou.

Estranhei.

Silêncio. Apatia. Desemoção.

Sem burburinho, sem conversas paralelas, sem contestações. Sem patuás nas mãos e mesas.

Inexpressividade coletiva.

– O que está havendo? – falei com a Mafalda, sempre companheira. Ela me olhou em desentendimento.

Atenta, me aproximei da tela da TV.

Escola de Samba é a manifestação cultural do povo que vive nos subúrbios, nas comunidades, na Baixada Fluminense. Logo notei, que o evento para descobrir a campeã, não acolhia o povo que dá alma aos desfiles.

O local escolhido foi um hotel na Barra da Tijuca. Lá não passa trem, metrô e mal tem ônibus. Contramão. Não representa o Carnaval.

Mesas circulares para cada escola. As tolhas branquinhas que forravam as mesas, nenhuma ruguinha. Provava a vigilância corporal dos minguados componentes estáticos. Só quatro pessoas compunham cada mesa. Os componentes, dirigentes e avaliados que espiritualizam às Escolas não estavam. Que apuração insossa.

Indignações sufocadas e lágrimas represadas. Entregas de notas nas salas de aulas dos colégios são mais vibrantes. Patuás, imagens de santos, sorrisos e nem choros nas mesas fantasmadas.

Fiasco. Frieza. Falta de emoção. Falta de consideração. Falta de empatia.

Quem produz a nota a ser recebida tem o direito a recebê-la presencialmente. O Rio de Janeiro tem diversos lugares que podem acomodar com requinte, espontaneidade e entusiasmo os integrantes que fazem as Escolas, para as apurações. Não cabe afastar os sambistas. O momento é de acolher e abraçar um a um que se doa ao samba.

Não desfigurem, não adulterem, não deformem o Carnaval!